Crítica - Van Gogh: Painted with Words


A arte em Van Gogh foi valorizada e enaltecida no momento em que ele morreu e arrisco dizer que continuará sendo assim até o fim dos tempos, entretanto o que precisa ser acrescentado a isso é que não faz sentido romantizar as mazelas de um homem com problemas familiares, religiosos, sociais e financeiros. O que faz deste filme tão sublime é a forma como essa atmosfera vivida por Van Gogh é colocada em película. Em tons sujos, escuros e frios, Van Gogh: Painted with Words, sintetiza apenas por meios das cartas trocadas entre ele e o seu irmão Theo - alguém mais que relevante na vida do pintor -, o período da sua vida religiosa que ganha um Plot Twist com o fanatismo crescente e posteriormente o seu fracasso, passando por descobertas em técnicas na arte, em cores, lugares, climas, amigos, sua loucura e trágica morte.

É bem interessante saber que todo o diálogo e conteúdo do filme vem do cotidiano real de Van Gogh. Nos surpreende enxergar o domínio que ele tinha com as cores no neo impressionismo ao mesmo tempo que uma crise sentimental nos toca quando constatado que cada pincelada e formas que ele colocou nas telas, partem de profundos sentimentos de tristeza, euforia e contemplação do ser. Quanto mais ele pintava, percebe-se nas obras que ele era apaixonado pelas cores, pelos girassóis, pelos trigos, pelo sol, o amarelo radiante... Pela natureza, pelas pessoas, pela vida como um todo, mesmo essa lhe oferecendo somente amargura e dias difíceis de se suportar.

“Starry Night” (Noite Estrelada) foi pintada por Van Gogh de memória durante o dia num sanatório em Saint-Rémy-de-Provence, no sul da França.
Também percebemos como os picos de humor do pintor vão se alterando e como isso influencia sua relação com outras pessoas, o que inclui seu irmão Theo e seu amigo e também pintor Paul Gauguin, pessoas que tiveram problemas e desentendimentos com Van Gogh. Gauguin inclusive pintou Van Gogh de forma caricata pintando girassóis de uma maneira a entender algum tipo de desespero no pintor. Benedict Cumberbatch enquanto Van Gogh, atua neste filme entregando-se com fidelidade ao personagem, algo que não é surpresa para ninguém tendo em vista suas atuações em outras obras. Se observarmos bem este filme, o que Van Gogh sofreu no que diz respeito às escolhas que ele fez, reflete claramente as consequências das escolhas que fazemos em nossas vidas nos dias atuais.

Benedict Cumberbatch em Van Gogh: Painted with Words. 2010, 80 min, BBC.
Ora, ao enaltecermos uma religião ao ponto de alcançarmos o fanatismo, na maioria das vezes somos considerados pela sociedade como loucos (quando não nos tornamos de fato); na arte somos julgados, desprezados e visto por conservadores, críticos e tradicionalistas como “vagabundos sem o que fazer” até o dia em que ou morremos e passem a valorizar o que deixamos (como foi o caso de Van Gogh), ou alguma "divindade" com poder de peso nas palavras do mundo das artes nos coloque num pedestal (o que não é muito frequente). Caso contrário, caímos no esquecimento sem nunca termos sido lembrados até sucumbir em nosso sentimento de fracasso. Podemos ver isso acontecer e principalmente aqui no Brasil com artistas em geral: músicos, artesãos, pintores, atores etc, e crescentemente vemos atreladas à essas parcelas da população, pessoas que optam por seguir profissões ou carreiras que se aproximam das citadas acima. Sendo bem simplista e vulgar, eu gostaria de pedir desculpas, mas o único exemplo que me veio à cabeça foi a distópica e banal batalha acadêmica “Humanas x Exatas”.

Por fim, com todo esse espetáculo decadente sobre aceitações e rejeições da sociedade contemporânea, não nos resta mais nada a não ser a solidão, o medo, a loucura e a morte assim como só restou apenas isso ao Van Gogh.

“Wheatfield with Crows” (Campo de Trigo com Corvos) foi uma das últimas pinturas de Van Gogh antes de sua morte. Foi consagrada como ícone que marcou o final da sua vida pelos elementos presentes no quadro, principalmente os corvos, que indicam mau-agouro e morte.
Túmulo de Vang Gogh e de seu irmão Theo na cidade de Auvers-sur-Oise, na França.
Crítica - Van Gogh: Painted with Words Crítica - Van Gogh: Painted with Words Reviewed by Rhaic Pasthor Piancó on julho 14, 2017 Rating: 5

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